Desde pequenina que ouvi histórias de doenças macabras que uma pessoa podia apanhar cada vez que fosse à casa de banho e se sentasse na sanita. Sempre que ia à casa de banho a minha mãe ensinava-me a cobrir o tampo com papel higiénico, de forma que não houvesse contacto algum com a dita cuja, mas dizia sempre que nunca, mas nunca me deveria sentar e tocar na sanita.
Apesar de já ter sido à anos, hoje em dia "a posição" é dolorosamente difícil de manter quando a bexiga está cheia, A verdade é que sempre que temos que ir ao um wc publico a fila é gigantesca, tão grande que me deixa sempre a pensar se estão a oferecer alguma coisa, bolachas ou assim... Mas como sabemos que não há muito a fazer, esperamos pacientemente a nossa vez, fazendo aquele sorriso idiota para as pessoas à nossa volta, sempre a tentar perceber quem está "mais aflitinha".
Passados alguns minutos (que para nós parecem sempre horas) a porta abre-se, é a nossa vez de entrar e o nosso alivio é tão grande que nos faz sorrir como se fossemos uma criança a abrir as prendas de natal, que quase atropelamos a desgraçada que está a tentar sair.
Uma vez lá dentro tentamos fechar a porta e (para variar) a fechadura está estraga, mas como a vontade já aperta que se lixe! Começamos a dança de tirar os casacos e a carteira para a pendurar no cabide, até que descobrimos que este (para além da fechadura porta) também não está lá... Como somos criativas penduramos a carteira ou no pescoço (já ouvi relatos de tem as segure com os dentes), mas como o peso é tão grande perdemos momentaneamente o equilíbrio. O pensamento continua positivo, para além da mão que está a segurar a porta e o pescoço que está a segurar a carteira, conseguimos desapertar as calças e baixar a bela da cuequinha, adoptando a posição desconfortável, tal e qual os contorcionistas do circo.
A sensação de alivio é a melhor coisa, sentimos que perdemos um peso gigante mas as nossas pernas e costas já estão cansadas de tanto contorcionismo e começam a tremer. Acho que é por volta desta altura que desejávamos poder estar sentadas mas como estamos numa casa de banho publica aguentamos.
Uma vez satisfeitas e já com aquele sorriso parvo na cara aproveitamos a mão solta para ir buscar o papel higiénico, até que percebemos que não há. A nossa cabeça dispara, será que tenho lenços na mala, será que há alguma coisa que possa utilizar? Em grande esforço, ainda com uma mão na porta, tentamos procurar o dito lenço dentro da mala que temos pendurada no pescoço, o equilíbrio é cada vez menor e a dor de costas maior.
Algures durante esta dança, há sempre alguém que decide ver se a casa de banho não tem ninguém, empurrando a porta. O mais certo é apanharmos com a porta na testa e gritar "ESTÁ OCUPADA!", fechando rapidamente a porta.
O lenço de papel, que era o ultimo cai no chão (que por caso está imundo), já estamos num estado de desespero de tal maneira grande que tentamos não pensar muito no assunto. Voltamos a vestir tudo, puxamos as cuequitas, as calças, encostamos o joelho na porta para que possamos fechar as caças...
Já revoltadas com a falta de sorte decidimos sair e dar lugar à próxima desgraçada. Vamos em direcção ao lavatório para lavar as mãos e tentar esquecer o episodio, mas a torneira está estragada, deita um jacto de água de tal maneira forte que nos molha até aos cotovelos... Claro que também não há papel para limpar as mãos e o raio do secador faz mais barulho do que seca. A fúria é tanta que toda a gente já se desvia de nós para nos deixar passar.
Durante este tempo todo, o nosso namorado já foi à casa de banho, já teve tempo para ler o jornal e olha para nós com um ar de quem está farto de estar à espera, apenas para nos dizer: "Mas que raio tiveste tu a fazer para demorar tanto tempo?!"
Respiramos fundo, até porque não vale a pena discutir sobre o assunto, olhamos para ele e apenas dizemos: "Espero que sejas uma mulher na tua próxima encarnação!"